Autoestima | Conversa Interna

O tom de voz que usas contigo mesma
Dita a qualidade da tua autoestima
Espero que estejas a ler este artigo no espaço que criaste só para ti.
Um espaço sagrado, silencioso, onde ninguém te irá interromper – se não sabes do que estou a falar lê o último artigo –para que possas escutar, de coração aberto, o que tenho para partilhar contigo sobre o tom de voz que diriges a ti mesma!
E, talvez descubras que esse tom, diz muito mais sobre a tua autoestima do que imaginavas.
O diálogo interno: a conversa mais importante da tua vida
Muitas mulheres não se apercebem que falam consigo mesmas o tempo todo.
E, mais importante ainda: não se dão conta do tom que usam nesse diálogo interior.
Esse tom, que nem sempre é carinhoso - mas sim crítico, exigente, impaciente e até mesmo duro – não aparece por acaso.
Ele constrói-se com base nas experiências que vivemos, na forma como fomos tratadas ao longo da infância.
Muitas vezes, é a continuação do tom com que as mulheres da nossa linhagem falavam com elas próprias.
A terapeuta Christine Wilding, no livro "Viver com a tua autoestima", chama atenção para a existência de um personagem interior que se torna o narrador principal deste tom de voz que na verdade é o nosso diálogo interno.
Esta voz pode ser a da Crítica, da Vítima, da Perfeccionista, da Controladora; mas a realidade é que a assumimos como verdadeira, sem nos darmos conta, que ela molda a forma como nos sentimos em relação a nós mesmas.
Tornar-se observadora desse personagem — reconhecê-lo, ouvi-lo e compreender de onde vem — é o primeiro passo para transformar esse diálogo e começar a nutrir-se com palavras que realmente fortalecem.
Nesta semana, convido-te a parar um instante, a entrar nesse espaço só teu que já começaste a criar, e, a escutar:
- Qual é o tom que tens usado para falares contigo mesma?
- 'É compassiva ou castigadora?
- Incentiva ou desmoraliza?
A forma como falas contigo mesma quando erras, quando te sentes insegura ou cansada, define o quanto acreditas no teu próprio valor.
Vamos juntas explorar como reconhecer as frases que podem passar despercebidas.
Entender como reprogramar esse diálogo interno e começar a nutrir essa voz com palavras conscientes que elevam a tua autoestima, e te levam à expressão de amor que o mundo precisa.
Exemplo prático:
- Quando sentes que fizeste algo mal feito, o que dizes a ti mesma?
Pensa nisto por um momento. Quando cometes um erro, como é que te falas?
"Sou mesmo parva, como é que fui capaz de fazer isto?"
"Claro que só podia correr mal, nunca faço nada bem feito…"
"Já devia ter aprendido que não é assim que se faz, sou tão burra…"
Agora imagina que uma amiga tua tivesse cometido o mesmo erro.
Dizias-lhe essas frases?
Talvez sim, mas o mais provável é que fosses empática e carinhosa, dizendo algo como:
"Não faz mal, aprendeste com isso."
"Estás a fazer o melhor que podes."
"És humana, está tudo certo."
Vejamos outros exemplos frequentes deste diálogo interno que nos desvaloriza, e comparemos um discurso que nos pode trazer alternativas mais amorosas:
Quando te comparas:
"Ela consegue tudo tão facilmente, eu nunca vou ser assim."
Alternativa amorosa:
"Cada uma tem o seu tempo e o seu caminho. Eu também tenho o meu valor, as minhas conquistas são únicas."
Quando recebes um elogio:
"Ela só está a ser simpática, não é verdade o que diz."
Alternativa amorosa:
"Aceito este elogio com gratidão e reconheço o meu valor."
Quando te sentes cansada:
"Não devia estar assim, sou mesmo frágil."
Alternativa amorosa:
"É normal sentir cansaço. Vou respeitar o meu ritmo e cuidar de mim."
Quando tomas uma decisão:
"Tenho que agradar a todos para não falhar."
Alternativa amorosa:
"A minha opinião importa. Posso escolher o que é melhor para mim."
Ferramentas integrativas, como o yoga, a meditação e o autoconhecimento, permite-nos aprender a reconhecer, compreender e até transformar esta voz, para que este diálogo interno seja coerente e assertivo.
Motivando-nos dia após dia a ser mais compassivas e empáticas connosco mesmas.
Este é, sem dúvida, um dos melhores caminhos de resgate da nossa autoestima.
A minha história com essa voz interna
Durante muitos anos, sem me dar conta, usei um tom bastante critico para falar comigo mesma.
Em cada passo em falso, escutava a minha "castradora interna" com uma voz dura e intransigente a lembrar-me que tinha de fazer mais e melhor, que não era admissível continuar a fazer tudo tão mal feito, que falhar não era possível a menos que fosse burra.
Confesso que ainda me apanho a escutar esta voz, mas de um lugar de consciência e empatia por essa voz que reflete o medo e a insegurança que caracterizam todos os seres humanos.
Desde que comecei a trabalhar nas crenças que limitavam o meu bem estar; desde que criei um espaço só meu para praticar yoga, meditar, escrever o que sinto, passei a estar cada vez mais atenta a essa voz, o que me permitiu reconhecê-la e deixar de acreditar nela.
No meu caso, o autoconhecimento, o yoga e a meditação abriram este caminho de consciência, e hoje, quando essa voz surge, consigo reconhecê-la.
Consigo conversar com ela e lembrar-lhe que estamos seguras, que estamos em crescimento, que merecemos amar todas as faces que nos habitam.
Se ainda não viste a aula gratuita de "Yoga e Autoconhecimento - para Processos de Mudança", onde partilho o início deste caminho de consciência de nós mesmas, e do que bloqueia a transformação que tanto precisamos.
Aconselho-te a fazê-lo agora, mesmo que surjam mil e uma desculpas.
Porque acredita em mim, o lugar das desculpas que inventas para não mudares o tom com que falas contigo mesma, é o mesmo que te separa de criar ferramentas que te ajudam a saber quem és tu quando ouves essa voz.
Prática de Yoga
Observar o diálogo interno é o primeiro passo para uma mudança real.
Mas, para que essa mudança seja consistente, precisamos convidar o corpo a entrar nessa jornada — porque é no corpo, nas nossas células, que fica o registo de tudo o que dizemos a nós mesmas.
Se ainda não o fizeste, convido-te a ler o artigo em que aprofundo este tema , para que compreendas melhor a importância de alterar a química do nosso corpo quando nos encontramos face a algo que queremos mudar em nós mesmas.
Esta semana, proponho uma sequência de posturas de yoga que te permite ser mais gentil contigo mesma.
Depois, vamos entrar numa breve meditação guiada para observar o diálogo interno sem julgamentos e, por fim, um momento de journaling para registar as descobertas, sentimentos e novos compromissos contigo mesma.
Sequência desta semana - coração ao alto
Convido-te agora a desenrolar o tapete.
Vamos fazer uma sequência de abertura do chacra cardíaco Anahata, e, do chacra laríngeo Vishuddha - centro energético ligado à expressão de nós mesmas.
Começa na Postura de Quatro Apoios
Mãos alinhadas com os ombros e joelhos alinhados com as ancas, para poderes alongar a coluna entre as Posturas:
- Gato (Marjaryasana) e
- Vaca (Bitilasana),
Como costumamos fazer.
Inspira, arqueia as costas, eleva o peito e o olhar.
Expira, curva as costas e aproxima o queixo do peito.
Repete estes movimentos por 5 ciclos respiratórios.
Volta a uma coluna neutra, inspira e eleva dos joelhos do chão.
Expira e empurra o chão com as mãos, direcionando o cóccix para trás e para cima.
Respira por 5 ciclos, nesta postura do cão a olhar para baixo (Adho Mukha Svanasana), aproveitando para alongar a parte posterior do corpo.
Na tua próxima inspiração, eleva a perna direita em direção ao céu, mantém o pé ativo, os ombros alinhados.
Ao expirar, dobra o joelho direito e começa a abrir a anca, deixando o calcanhar direito cair na direção da nádega esquerda.
Sente o peito a querer abrir-se, o corpo a ganhar leveza e movimento.
Começa a transferir o peso para o lado esquerdo do corpo, empurra bem o chão com a mão esquerda e ativa o pé esquerdo para encontrares firmeza e segurança.
De forma controlada, deixa o pé direito cair suavemente por trás do lado esquerdo do corpo.
A ponta do pé pousa no chão, e nesse momento o teu corpo inteiro abre.
Empurra um pouco mais o chão com a mão esquerda, eleva a anca, e o peito.
Deixa o braço direito fluir por cima e para trás, como uma onda de liberdade.
Abre o peito ao céu, coração ao alto.
Estás na postura da Coisa Selvagem,(Camatkarasana).
Respira profundamente.
Permite-te sentir esta expansão — como se o teu corpo gritasse a liberdade de ser, como se abrisses espaço para a tua verdadeira natureza, instintiva e viva.
Permanece aqui por algumas respirações. Sente a força e a leveza em equilíbrio.
Quando estiveres pronta para regressar, traz o braço direito de volta à frente, com suavidade.
Recolhe o pé direito, voltando à Postura do Cão a Olhar para Baixo (Adho Mukha Svanasana).
Fica aqui por mais 5 ciclos respiratórios, sentindo o efeito da transição.
Depois, repete tudo para o outro lado.
Quando terminares, volta à Postura do cão a olhar para baixo (Adho Mukha Svanasana), dobra as pernas e leva os joelhos ao chão, para te sentares sobre os calcanhares e inclinares o teu tronco na direção do chão, na Postura da Criança (Balasana).
Benefícios físicos e emocionais desta sequência
- Liberta tensão nas costas e ombros.
- Fortalece o centro do corpo e braços.
- Abre o peito e a garganta, promovendo uma maior conexão com a voz interior.
- Estimula o centro da expressão, contribuindo para uma comunicação mais clara e amorosa contigo mesma e com quem te rodeia.
Meditação: O tom da tua voz interna
Senta-te confortavelmente ou deita-te, permitindo que o corpo relaxe e a respiração se torne calma e natural.
Fecha os olhos, se te sentires à vontade.
Leva a atenção para dentro, para esse espaço que é só teu.
Escuta com gentileza a voz que habita aí dentro — a tua voz interior.
Essa voz que fala contigo todos os dias, especialmente quando cometemos erros ou enfrentamos desafios.
Sem pressa, observa o tom dessa voz: é suave e compassiva?
Ou severa e crítica?
Quais as palavras que usa contigo?
Talvez digas para ti mesma
"não sou boa o suficiente", ou
"deveria ter feito melhor".
Ou talvez nem percebas essas frases, porque são tão habituais que parecem invisíveis.
Permite que essas palavras venham à tua consciência sem julgamento, apenas como observadora curiosa.
Reconhece que essa voz é um personagem, uma parte da tua história que pode ser transformada.
Respira fundo e, a cada expiração, imagina que podes suavizar o tom dessa voz, tornando-a mais amiga, acolhedora, encorajadora.
Lembra-te: já tens um espaço sagrado onde podes voltar sempre que precisares para ouvir essa voz com amor e mudar o seu tom.
Quando estiveres pronta, traz a atenção para o momento presente e abre os olhos devagar.
Esta semana, resolvi partilhar em áudio - no grupo privado do WhatsApp – esta meditação guiada como convite a escutares o tom da tua voz interior, guiada pela minha voz.
Se ainda não estás no grupo, este é o momento certo para entrares.
Journaling: Regista o que observaste
Depois da meditação, pega num caderno ou diário e dedica alguns minutos para escrever sobre a tua experiência. Pergunta a ti mesma:
- Que tom de voz senti durante a meditação? Foi mais crítico, suave, neutro ou outro?
- Que palavras ou frases vieram à minha mente? Consegui identificá-las?
- Como me senti ao ouvir essa voz? Fiquei confortável ou desconfortável?
- Que mudança gostaria de convidar para essa voz interior daqui para a frente?
Escreve sem censura, com honestidade e gentileza contigo mesma.
Este é o teu espaço de autoconhecimento, onde começas a reprogramar o diálogo interno para te nutrir e apoiar.
Estas práticas de meditação e journaling, são um convite para que te tornes uma observadora consciente do teu diálogo interno, começando a criar um espaço seguro e gentil dentro de ti — para que a tua autoestima possa crescer a partir do respeito e do carinho que mereces.
"A forma como falas contigo, é a semente da tua autoestima."
Escolher um tom mais amoroso, significa ser justa contigo. Reconhecer os teus esforços.
Valorizar a mulher que és!
Se este artigo, te motivou a mudar a forma como falas contigo mesmas, partilha-o com outras mulheres que sabes que também precisam dessa mudança.
Com amor,
Su