Ansiedade
Uma consequência real da falta de autoestima
Escolhi o verão para falar de expansão e crescimento pessoal.
A ideia é, que até ao final do verão, tenhamos criado ferramentas para potenciar o amor que sentimos por nós mesmas, através da valorização de quem somos e de uma total confiança nas experiência que a vida nos oferece.
Nos últimos artigos temos andado a falar sobre o que nos impede de sentir autoestima, em seguida vamos falar sobre termos confiança.
Mas, não há como passar para um tema como a confiança, sem falarmos de um distúrbio presente na grande maioria de nós – a ansiedade.
Neste artigo vamos compreender como a ansiedade, nos impede de valorizar a nossa história, e de acreditar que tudo o que passamos é apenas uma experiência que nos permite crescer.
A minha história com a ansiedade
Durante muito tempo vivi com ansiedade crónica — sem saber.
Sentia o corpo inquieto, o peito apertado, o coração a disparar por tudo e por nada.
A cabeça não parava de pensar sempre no pior cenário, seja em que aspecto fosse da minha vida, principalmente no amor.
Hoje, já tenho ferramentas para perceber o quanto a minha mente estava viciada em me proteger do mundo, nutrindo diariamente a crença de que a vida era um perigo constante.
Mas, deixem-me contar um pouco da minha história, para que possam olhar para vocês mesmas e perceber de onde possa ter nascido a vossa ansiedade.
Cresci numa cidade, e desde pequena que ouvi os meus pais me dizerem
"tem cuidado, que o perigo mora na esquina";
"não fales com estranhos";
"não aceites nada de ninguém".
Sem saber, estas frases estavam a marcar o rumo da minha vida!
Durante a minha adolescência, quando me comecei a relacionar com o amor, vivi relações marcadas por uma ansiedade constante, por medo de rejeição, de traição e abandono.
Passei por perdas difíceis: separações, recomeços que pareciam impossíveis.
No meio disto tudo, acabei por me sentir como uma vítima a quem tudo de mau acontecia, e criei um escudo invisível - a ansiedade constante – que me mantinha alerta como se essa fosse a única forma de sobreviver.
Até que foi o corpo que não aguentou mais.
Comecei por me dar conta que as minhas TPM eram demasiado difíceis, com mudanças de humor repentinas, insónia, tensão muscular, crises de choro, e a sensação, permanente, de que algo de mau ia acontecer - mesmo quando estava tudo bem.
Depois, foram as intolerâncias alimentares, os meus intestinos já não aguentavam a dor que os meus pensamentos e emoções me faziam sentir.
Compreender que o meu corpo precisava de ajuda, por tudo o que andava a nutrir dentro de mim, foi uma bofetada gigante.
Hoje vejo a ansiedade, como uma oportunidade!
Uma oportunidade de reconhecer que algo não está bem, que algo precisa mudar.
Ansiedade um reflexo ancestral
Depois de anos de autoconhecimento, sei que as frases que tanto ouvi na minha infância, estiveram na origem do medo e, da ansiedade, que senti durante grande parte da minha vida.
Como poderiam os meus pais não passar o medo que tinham que algo me acontecesse, se também viviam esse medo constante pela nossa sobrevivência.
É importante compreender que a ansiedade que sentimos não é apenas uma questão pessoal.
Ela é, uma herança coletiva.
Vivemos numa humanidade que, durante séculos, cultivou o medo como forma de proteção e sobrevivência.
Acredito que desde os tempos em que vivamos na natureza, com predadores ferozes, que nos habituamos a manter-nos alerta, a proteger-nos do que poderia correr mal.
Foi este medo que nos permitiu sobreviver, mas a verdade, é que fomos perpetuando este medo, de todas as formas, na forma como continuamos a ser instigados a não confiar na vida.
De geração em geração fomos transmitindo medos, não apenas por palavras, mas por gestos, silêncios, expressões faciais e formas de educar.
O medo do instante a seguir, tornou-se demasiado presente.
E hoje, mesmo sem estarmos a fugir de predadores ou ameaças reais, o nosso corpo continua a reagir como se estivéssemos em perigo.
A ansiedade é, muitas vezes, o reflexo de um corpo e de um sistema nervoso que nunca aprendeu o que é estar em verdadeira segurança.
Ansiedade - uma resposta natural do corpo
Como vimos a ansiedade é uma resposta natural do nosso corpo, a algo que nos faz sentir ameaçadas, algo que pode vir a acontecer e que temos medo que aconteça, seja esse medo real ou imaginário.
O problema é quando este medo do que irá acontecer, se instala de forma constante, como um alarme que nunca desliga, fazendo com que o nosso corpo entre em modo de sobrevivência constante.
Muitas mulheres vivem — com dores no peito, insónia, tensão muscular, cansaço extremo — sem saber que tudo isso pode estar ligado à ansiedade crónica, por falta de autoestima e confiança na vida.
Sem confiarmos na vida, não confiamos em nós mesmas, não sabemos que temos em nós ferramentas para lidar com qualquer tipo de desafio que se apresente.
O que acontece quando sentimos ansiedade?
Cada pensamento gera uma reação química no corpo.
Quando repetimos pensamentos ansiosos, como
"e se algo correr mal?",
O cérebro ativa a amígdala — gerando adrenalina e cortisol, como se estivéssemos sob ameaça real.
O pensamento cria o sentimento, e o sentimento reforça o pensamento.
Quando pensamos no pior - o corpo responde com química de stress e o cérebro ao captar essa sensação, nutre mais pensamentos negativos.
Fisiologia de "luta ou fuga" em ação .
Ao vivermos em estado de alerta — mesmo que sem motivo real — o nosso corpo reduz as funções de descanso: o coração acelera, a respiração fica rápida e superficial, há tensão muscular, o sistema digestivo é prejudicado, o cortisol aumenta e o sistema imunológico enfraquece .
O corpo "vicia-se" na ansiedade - o Dr. Joe Dispenza afirma que este padrão torna-se uma dependência química: o corpo passa a antecipar mesmo situações futuras como se fossem reais e, por isso, mantém-se em alerta crónico mesmo quando não há ameaça externa.
Não há como mudar estados de ansiedade, se não compreendermos a sua origem em nós mesmas.
Por isso, vos contei a minha história, pois foi a compreensão da mesma que me permitiu mudar.
Espero que, por esta altura, já tenhas assistido há componente teórica, da aula gratuita – para processos de mudança – onde mostrei a importância de relacionarmos a nossa ancestralidade e o que aprendemos na infância, com quem nos tornamos na idade adulta.
Como lidar com a ansiedade
Há muito tempo, que ao iniciar uma aula de yoga, a primeira coisa que faço é perguntar a cada uma das minhas alunas:
"Como te sentes hoje?".
Muitas respondem
"Ansiosa".
E após saber como se sentem, escolho um exercício respiratório – pranayama – que acalme as mentes agitadas de quem esta a sentir ansiedade, para que possam rapidamente chegar às sensações corporais.
O poder do pranayama
Durante muito tempo, associei o yoga apenas aos movimentos do corpo.
Só quando fiz a formação como professora de Vinyasa Flow Yoga, é que percebi que uma das chaves mais poderosas para a calma não estava na força física, mas na respiração.
No yoga, essa prática chama-se pranayama – um dos oito ramos do yoga, como descrito por Patanjali, que tem como propósito cultivar a presença, equilibrar o sistema nervoso e criar espaço interior.
Segundo estudos publicados no International Journal of Yoga, práticas regulares de pranayama, ajudam a:
- Reduzir o cortisol, hormona associada ao stress crónico;
- Ativar o sistema nervoso parassimpático, responsável pelo descanso, digestão e regeneração;
- Diminuir a atividade da amígdala, área do cérebro ligada ao medo e à ansiedade;
- Aumentar a clareza mental e emocional, ao melhorar a comunicação entre o cérebro emocional e o racional.
Motivos para usar Pranayama para a ansiedade
Quando respiramos de forma consciente e rítmica, o corpo sai do modo de sobrevivência e entra num estado de segurança interna, porque conseguimos:
- Regular o sistema nervoso – pela redução do cortisol e ativação do sistema parassimpático (repouso e digestão)
- Equilibrar a mente através do corpo – pela interrupção dos pensamentos repetitivos que alimentam o ciclo pensamento-emoção-pensamento.
- Aumentar a Clareza emocional – uma vez que o córtex pré-frontal passa a ter voz ativa, diminuindo a tendência à reatividade automática .
- Mais bem-estar físico e mental - incluindo sono, pressão arterial e resistência ao stress .
Mudar o "vicio" que a ansiedade cria no corpo
Cada pensamento gera uma emoção, e essa emoção gera uma reação química no corpo.
Quando vivemos repetidamente num estado de ansiedade, o corpo habitua-se a esse padrão químico e passa a ansiá-lo como se fosse uma dependência.
Tentar "acalmar a mente" sem envolver o corpo raramente resulta, é preciso usar o corpo para mudar o seu estado interno — e a respiração é uma das ferramentas mais acessíveis e poderosas para isso.
Quando se aprende a respirar com presença, estamos a reprogramar os mesmos circuitos cerebrais e padrões químicos que mantinham a ansiedade.
Estamos a desconstruir o vício da antecipação do perigo, e a construir confiança no momento presente.
Pranayamas que reduzem a ansiedade
Respiração da abelha (Bhramari pranayama)
Como fazer:
Senta-te numa posição confortável com a coluna ereta, fecha suavemente os olhos, relaxa o rosto, maxilares e ombros.
Coloca as mãos nas orelhas com os indicadores a pressionar a cartilagem logo à frente da entrada do ouvido.
Inspira profundamente pelo nariz, e ao expirar, faz o som "mmm" mantendo os lábios fechados.
Deixa que este som vibre na tua garganta e cabeça, como o zumbido de uma abelha.
A vibração deve ser suave, contínua e prolongada até o final da expiração.
Traz o teu foco à ressonância deste som nas têmporas, no crânio e no peito.
Essa atenção ao som ajuda a acalmar a mente.
Repete por 7 ciclos (ou mais, se desejares).
Respiração completa (Dirga pranayama)
Como fazer:
Inspira e enche o abdómen, depois a caixa torácica e finalmente o peito.
Sente que o corpo não faz esforço — é a gravidade que permite a entrada do ar.
Expira, deixando sair o ar do peito, do tórax e por último do abdómen.
Ao expirar o corpo vai ativar o diafragma para libertar o ar.
Rotina para ajudar em momentos de crise
Durante uma crise de ansiedade, pedir a alguém que se concentre na respiração de forma consciente, sem ter esse hábito no dia a dia, pode ser algo impossível de fazer.
A mente está demasiado acelerada, o corpo em alerta máximo. Por isso é tão importante criarmos uma rotina que faça dos exercícios de respiração um hábito regular.
Sugestão:
Começa a escrever diariamente detalhes do que estás a fazer no momento em que te sentas.
Por exemplo:
"Estou sentada na cadeira, sinto os pés no chão, ouço o som do vento lá fora, o sol entra pela janela, as minhas mãos pegam na xicara de café, a minha boca saboreia o café quente e doce, estou a respirar devagar."
Este tipo de escrita, com o tempo, ajuda a encontrar mais rapidamente o caminho de volta à respiração — sem te perderes nas distrações da mente.
Como vimos ao longo deste artigo, é no corpo que está somatizada a ansiedade, por isso só através do corpo, nos podemos libertar.
A prática do yoga, da respiração e da escuta interna, são convites para regressarmos ao corpo — à realidade de estarmos vivas.
Eu sei que existe em ti um lugar de calma e segurança - só precisas voltar a respirar.
Se ao ler este artigo, ficaste com vontade de experimentar o que aqui sugeri - então não deixes de o partilhar, com outras mulheres.
Com Amor
Su