Porque Temos Tanto Medo da Mudança?

16-04-2025

O medo não precisa ser um bloqueio — pode ser um impulso para a tua expansão.


Sê muito bem-vinda a este espaço de partilha, onde aprofundo ensinamentos de yoga e práticas de autoconhecimento, numa linguagem simples de compreender que provavelmente te irá ajudar a criar uma versão mais saudável e consciente de ti mesma.

Esta semana, vamos aprofundar as razões internas e externas que nos levam a resistir à mudança, compreender o que o yoga e o autoconhecimento nos ensinam sobre o medo, e explorar práticas que nos ajudam a transformar esse medo num motor de crescimento.

Comecemos por saber algo fundamental - mudar é inevitável.

Faz parte da vida, da natureza, dos ciclos que nos regem.

No entanto, passamos mais de metade da nossa vida adulta a acreditar que somos quem somos — como se a identidade estivesse presa numa definição fixa, imutável. 

Crescemos a repetir a nós mesmas, frases como: 

"eu sou assim", 

"isto faz parte da minha personalidade" ou 

"já não tenho idade para mudar". 

O problema é que estas frases vão se enraizando como verdades absolutas (ler artigo sobre crenças limitantes), e nem nos apercebemos a origem de tamanha mentira (ver artigos sobre crenças herdadas pela nossa linhagem ou durante a infância).

Acredito que, confundimos estabilidade com estagnação, segurança com repetição, e o conforto do que conhecemos, com o desconforto de conquistar uma versão de nós mesmas bem diferente da atual, simplesmente porque não a conhecemos ainda. 

E tudo isto é natural — acontece contigo, tal como aconteceu comigo até que comecei a dedicar tempo a um trabalho profundo de autoconhecimento com bases na filosofia de vida do yoga.

Vejamos porque confundimos estabilidade com estagnação. 

A nossa mente procura o previsível porque acredita que assim estaremos mais protegidas. 

No entanto, esse impulso de manter tudo como está entra em conflito com a própria natureza da vida, que nos ensina que tudo está em constante movimento, e que a permanência é uma ilusão.

A expansão faz parte da vida.

Mas muitas vezes, aprendemos a conter essa expansão para manter uma falsa sensação de estabilidade. 

Acreditamos que mudar seria abdicar de quem somos — quando, na verdade, é na mudança que nos encontramos com versões mais profundas e autênticas de nós mesmas.

Começar a ver a mudança como um processo natural e necessário, em vez de um risco ou uma ameaça, é talvez o primeiro passo para nos libertarmos do peso da nossa identidade e começarmos a viver em maior verdade para conosco mesmas e para com os outros em nosso redor.

Mas para isso, é preciso coragem, não apenas a coragem que nos dá força, mas sim a coragem que nos permite seguir os chamados do coração que nascem de bases sólidas quando trabalhamos em nós mesmas a escuta interna que nos leva ao autoconhecimento (ver artigo sobre introspecção).

Embora, na teoria até faça sentido e seja simples de compreender, a realidade da maioria de nós é que quando sentimos vontade de mudar, sentimos resistência, sentimos medo.

Qual é a razão de ficarmos estagnadas no que já conhecemos, mesmo que não nos nutra?

O medo da mudança nasce, em grande parte, do funcionamento natural do nosso cérebro. 

A mente tem como prioridade a sobrevivência — não a expansão. A mente interpreta a mudança como um risco, porque está associada ao desconhecido. 

E o desconhecido, para o cérebro reptiliano, é perigoso.

Quantas vezes perante uma mudança, da mais simples à mais complexa; te apanhaste a dizer:

  •  E se eu falhar?
  •  E se eu me magoar?
  •  E se eu perder o que já tenho?

E sem perceberes, deste mais atenção à voz do medo do que à voz do coração.

A mente prefere repetir padrões antigos (mesmo que nos causem dor) a arriscar algo novo, porque isso exige energia, atenção e presença, e como já vimos em vários outros artigos, 95% dos nossos pensamentos são repetitivos e inconscientes. 

Por isso, é fundamental cada uma de nós mergulhar em processos consistentes de autoconhecimento, para que o que mora no inconsciente se torne consciente e passível de ser transformado.

A ilusão da segurança – o conforto do ego

Antes de falarmos sobre como o ego nos mantém em conforto, é importante compreender o que é, afinal, o ego.

O ego é a parte da psique que constrói a nossa identidade — é o "eu" com o qual nos identificamos: o nosso nome, história, conquistas, medos, personalidade. 

É como uma roupa que usamos para caminhar pela vida, necessária para termos estrutura, limites e relações. Eckhart Tolle, autor de O Poder do Agora ensina que

❝ O problema não está em termos ego. O problema está em confundirmo-nos com ele. ❞

O ego tem como prioridades o reconhecimento e a previsibilidade. A sua função é proteger-nos de tudo o que pareça ameaça. 

Por isso, quando falamos de mudança, o primeiro que reage é o ego, só que reage de tal forma alarmista que acabamos por nos identificar e acreditar no que nos diz. 

Vejamos algumas perguntas que o ego se faz, assim que escuta a palavra mudança:

  • Será que vamos estar em segurança?
  • Será que vale a pena?
  • Será que seremos amadas?

Acolher o ego, em vez de o combater.

Temos ouvido muitas versões sobre como combater, e até mesmo eliminar o ego.

Não concordo com esta visão, não acredito que seja possível eliminar o ego, nem acredito que combate-lo seja a melhor solução, pois em última análise estaríamos a combater parte de nós mesmas, essencial à nossa segurança e sobrevivência enquanto espécie. 

Acredito mais na versão que nos ensina a acolher quem somos e no que acreditamos, de forma consciente e compassiva. 

Por isso, repito tantas vezes, tudo em nós é passível de ser amado.

O yoga ensina-nos a observar, não a lutar. 

A meditação ensina-nos a criar espaço entre o impulso e a ação. 

Só assim poderemos escolher o caminho a seguir com sabedoria.

Porque nos mantemos na zona de conforto?

Simplesmente, porque o ego encontra segurança na repetição. O ego tem a necessidade de garantir que estamos seguras, que as coisas permanecem previsíveis, que as variáveis não nos surpreendem. 

Acredita que, ao manter as coisas como estão, estamos protegidas. 

A nossa mente, no fundo, quer controlar o ambiente para evitar riscos, algo que ela associa diretamente à sobrevivência.

O que o ego não entende é que, ao nos mantermos na zona de conforto, na verdade estamos em estado de sobrevivência — e não de vivência plena. 

A sobrevivência é apenas o oposto de morrer, é a manutenção do mínimo. 

Mas, nós não viemos à vida apenas para sobreviver. Viemos para viver a total expansão do nosso ser!

A verdade é que, para crescermos é necessário correr riscos. 

Não aqueles que colocam em perigo a nossa vida, como é obvio, mas aqueles que desafiam a nossa segurança emocional, mental e até física — como tentar algo novo, tomar decisões que nos tiram da nossa rotina ou abandonar hábitos que já não servem ao nosso bem estar.

A mudança é a energia que alimenta a nossa evolução.

Talvez possamos afirmar que o ego não é o melhor amigo da evolução, por isso quando tentamos dar o primeiro passo para a mudança, o ego prefere atolar-nos de pensamentos que nos bloqueiam antes mesmo de tentarmos. 

Como os exemplos a seguir:

"Tu não és assim."

Como se a mudança fosse uma ameaça à nossa identidade. O ego acredita que, se mudarmos, deixaremos de ser quem somos.

"Não vale a pena, vais voltar ao mesmo."

Uma forma de garantir que não nos arriscamos, alimentando a crença de que o esforço será inútil.

"É melhor manter as coisas como estão."

Convence nos de que a segurança do conhecido é melhor do que o risco do desconhecido, mesmo que o conhecido já não nos sirva.

Mas, como já vimos, estes pensamentos não são mais que um processo de sobrevivência reptiliana, que tenta a todo o custo proteger-nos. 

No entanto, quando começamos a trabalhar em nós mesmas o autoconhecimento, e práticas de saúde integrativas como o yoga e a meditação, podemos reconhecer que estes pensamentos não são nossos, e assim aprender a distinguir o básico que é, não nos identificarmos com eles.

Verdade seja dita, o ego pode ser muito convincente, mas não é quem somos. 

Quando conseguimos observar estes pensamentos sem nos deixarmos dominar por eles, abrimos espaço para escolher tomar decisões mais conscientes.

Acontece com muita frequência, adiarmos a mudança acabando por sentir que não somos capazes de a iniciar, e tudo isto porque o medo do desconhecido nos faz acreditar que é mais seguro ficar como estamos, mesmo que isso nos faça infelizes ou nos deixe eternamente insatisfeitas. 

Por isso, chamamos a esta repetição de nós mesmas, a zona de conforto, que muitas vezes de confortável, não tem absolutamente nada.

A boa noticia, é que se nos deixarmos guiar pela coragem de mudar e a confiança de que a vida nos está a convidar a expandir, podemos atravessar estes medos de mudar de forma muito mais leve.

A verdadeira expansão exige ação.

Claro, que ter medo é natural e saudável, só precisamos saber de onde vem esse medo, se ele tem razão de ser, para que não nos impeça de mudar, crescer e seguir o caminho que sabemos no nosso interior que nos irá fazer felizes.

Sugestão para quando sentires medo ou resistência à mudança.

Pergunta-te:

  •  Isto é mesmo perigoso, ou é o meu ego que está a tentar proteger-me?
  •  O que é que o meu ego precisa de ouvir, agora, para se acalmar?
  •  Posso agradecer-lhe pela proteção, e ainda assim seguir em frente com coragem?

O que o yoga nos ensina sobre mudança e medo

O Yoga ensina-nos através das suas escrituras sagradas que tudo está em constante transformação (Parinama), e que o apego ao que é transitório causa sofrimento (Dukha). Aceitarmos que tudo muda — o corpo, as emoções, as estações, as fases da vida — permite-nos encontrar liberdade interior.

"Nada é permanente.
Tudo nasce, floresce, morre e renasce."

Thich Nhat Hanh

O yoga ensina-nos a estar com o que é, em vez de queremos que alterar o que quer que esteja a acontecer. 

O yoga ensina-nos a viver a realidade em vez da ilusão. 

O yoga ensina-nos a respirar mesmo no desconforto. 

O yoga ensina-nos a escutar o corpo e a alma.

Na prática de ásanas, a cada postura, aprendemos a confiar; a cada respiração, libertamos um pouco mais do que acreditamos controlar. 

E aqui acontece algo de extraordinário a rendição ao fluxo de vida, que é o que nos permite expandir.

Basta observar a primavera, onde após o recolhimento do inverno, a vida renasce – achas que as flores se questionam se é seguro abrirem-se? 

Claro que não, apenas seguem o seu ciclo, independentemente dos riscos.

Talvez precises relembrar-te que Tu és natureza, e em ti habita o mesmo impulso de renascimento. 

Expandir – mudar - cresçer faz parte da essência de todas nós!


Prática de Yoga: Preparar o Corpo para a Mudança (10 minutos)

Senta-te confortavelmente com as costas direitas, nádegas bem assentes e topo da cabeça dirigida ao céu. 

Se for confortável fecha os olhos e traz a tua atenção para a respiração. Inspira profundamente pelo nariz em 4 tempos, retém a respiração em 4 tempos, e expira suavemente pela boca em 4 tempos. Repete este ciclo 5 vezes.

Postura da Criança (Balasana

Esta postura alonga a coluna, as ancas e os tornozelos. Relaxa a musculatura das costas, aliviando tensões acumuladas. Sendo uma postura de acolhimento e introspecção, ajuda a libertar tensões emocionais, acalma a mente e proporciona uma sensação de segurança e conforto.

Como fazer: Senta-te suavemente de joelhos no chão, sobre os calcanhares, estica os braços à frente, se possível apoiando a testa no chão. Se não for possível, coloca uma almofada na testa, para que a coluna fique direita. Permite-te relaxar num ciclo de 5 respirações (inspiração – expiração).

Postura de 4 Apoios (Bharmanasana

Esta postura ativa o core (centro do corpo) e prepara os músculos para outros movimentos. Ela também ajuda a melhorar a estabilidade nas articulações do ombro e ancas. Ajuda a promover a sensação de presença, ao conectares as partes do corpo em contacto com o chão. Ela também ensina a trazer a atenção para o momento presente, fortalecendo a mente.

Como fazer: A partir da postura da criança, conquista a postura de 4 apoios, alinhando os joelhos à largura das ancas, mãos bem abertas no chão, e os punhos alinhados com os ombros. Mantém o tronco firme e os ombros afastados das orelhas.

Postura do Coração Aberto (Anahatasana)

Esta postura alonga a coluna, melhora a flexibilidade da parte frontal do corpo e abre o peito, aliviando a tensão na região torácica. Fortalece os braços e as costas. A abertura do peito promove a abertura do nosso coração energético. Ajuda aumentar a autoconfiança e a conexão contigo mesma.

Como fazer: A partir da posição de 4 apoios, desce o peito em direção ao chão, deixando os braços esticados à frente. 

A postura pode ser mais suave ou profunda, dependendo da flexibilidade do teu corpo. 

Permite que o coração se abra, mantendo os quadris elevados.

Para finalizar, volta gentilmente à postura da criança, relaxando completamente o corpo no chão, permitindo que a respiração flua livremente e que o corpo absorva os benefícios da prática.

Esta sequência oferece-te uma oportunidade de cultivares maior percepção do corpo, das emoções e da respiração, promovendo autoconhecimento e consciência corporal.

Meditação Guiada: Quando uma porta se fecha, abre-se uma janela (5 minutos) 

Agora que terminaste a sequência de ásanas, estas pronta para meditar, expandindo a tua mente à mudança que tanto precisas.

1.    Senta-te de olhos fechados.

2.    Respira profundamente 3 vezes.

3.    Pensa em algo que já não queres manter na tua vida. Visualiza uma porta a fechar-se e sente que aquilo que queres largar parte atrás dessa porta.

4.    Respira profundamente, mais 3 vezes, e permite-te sentir o que essa partida ativa em ti. Não te apegues a nada que sentes, apenas observa e deixa ir.

5.    Agora imagina uma janela a abrir-se e a deixar entrar a luz do sol. Visualiza o que está do outro lado: um novo caminho, uma versão de ti mais consciente, um novo hábito, uma nova relação, um novo emprego.

6.    Repete para ti mesma, uma destas afirmações:

  • "Confio no fluxo da vida."
  • "Sou guiada pelo meu coração."
  • "O medo é um sinal de que estou a crescer."

7.    Finaliza com um sorriso interior e gratidão pelo caminho que estás a abrir.

8.    Se sentires vontade escreve no teu caderno tudo o que sentiste na tua meditação.

Com certeza que se fizeste a prática de ásanas e a meditação, aprendeste a estar presente, mesmo quando a vida te leva para terrenos desconhecidos. 

A mudança é o solo fértil onde a tua nova versão está a germinar.

Libertar o corpo (ver conteúdo adicional sobre as mensagens que o nosso corpo nos envia - link) numa prática de yoga como a que acabei de sugerir, de profunda expansão do coração, permite-nos observar que não somos os nossos medos, somos o caminho que escolhemos seguir.

Quando Deus fecha uma porta, abre uma janela.

E às vezes, essa janela dá acesso a uma vista que nunca imaginaste ser possível, mas que afinal é a tua visão única de ti do mundo, e só por isso merece ser materializada.

Se sentes que estás num momento de transição e gostarias de ter apoio nesse caminho, relembro-te que facilito mentorias individuais, criadas para te ajudar a atravessar com mais clareza e leveza qualquer processo de mudança.

E, se desejares um mergulho mais profundo, convido-te a explorar o meu programa individual e personalizado de 4 semanas de autoconhecimento, onde juntas trabalhamos temas essenciais para te reconectares com a tua essência e criares uma nova versão de ti mesma — mais saudável, mais consciente, mais tua.

A mudança pode ser um grande desafio, mas não precisas de atravessá-la sozinha.

Se quiseres saber mais ou marcar uma sessão, entra em contacto comigo. 

Será um prazer enorme caminhar contigo neste processo de transformação!

Se este artigo, te impactou de alguma forma, não deixes de o partilhar com outras mulheres que precisem deste conteúdo para finalmente darem o passo tão desejado na mudança que tanto esperam conquistar.

Com Amor

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