Os outros são mais importantes que tu?

05-03-2025

No último artigo, partilhei convosco como as crenças que herdamos da nossa linhagem ancestral influência as nossas vidas para o "bem" e para o "mal".

Mas, fiquei a pensar, será que as mulheres que leram o artigo, conseguem identificar essas crenças.?

Mais ainda, quando a maioria do tempo estão tão ocupadas a cuidar dos outros.

Pois é, exatamente este ponto que vamos aprofundar, esta semana, para compreender uma das crenças mais impactantes das vidas das mulheres

Esta semana, vamos falar sobre o que nos leva a pensar que os outros são mais importantes que nós mesmas.

É bem mais comum do que imaginamos, sentir que as necessidades dos outros devem vir antes das nossas.

Muitas de nós colocamos a família, trabalho, amigos, na frente das nossas necessidades.

Se refletirmos sobre este comportamento, compreendemos que a crença de nos sacrificar pelos outros, é o reflexo de uma herança de mulheres que, não tinham escolha a não ser atender às expectativas e necessidades dos outros, principalmente da família.

Mas, a verdade é que hoje temos escolha, e precisamos compreender o quanto deixarmos de cuidar de nós mesmas, nos leva a ciclos de frustração e exaustão.

Ao longo deste artigo, vamos explorar todos estes aspectos, e como isto pode transformar as nossas vidas.

De onde vem a necessidade de cuidar dos outros

Se olharmos para as gerações de mulheres que vieram antes de nós, a ideia de se colocarem em primeiro lugar era impensável.

Todas nós somos testemunhas de gerações de mulheres, que acreditavam profundamente que uma mulher deve dedicar o seu tempo à família; que uma mulher que não cuida dos seus é egoísta e não serve para nada.

Claro que muitas destas mulheres, não tinham a liberdade que nós temos, e não tiveram outra escolha se não casar e tomar conta da família.

Foi assim que as primeiras gerações passaram, esta carga até que chegasse a nós.

A verdade é que Herdámos a crença de que sermos mulheres significa sacrificar-nos pelos outros, mas onde isto nos leva e qual a dor que isto carrega talvez poucas de nós tenhamos consciência.

Que dor carregamos por trás deste sacrifício:

Quem se lembra da avó acordar mais cedo que toda a gente, para poder preparar tudo, mesmo que se sentisse sempre cansada.

Alguma vez sentiram que só assim é que ela se sentia bem? 

Como se fosse a única forma reconhecermos o seu valor.

Como se cuidar de si mesma, a fizesse sentir que não estava a cumprir o seu papel de mulher, e se sentisse culpada de dizer não posso.

Vários estudos sobre crenças emocionais transgeracionais, permitem concluir que as mulheres que têm dificuldade em se colocar em primeiro lugar, na grande maioria herdaram inconscientemente a ferida emocional da culpa.

No meu trabalho, concluo o mesmo.

As mulheres que chegam até ao programa de autoconhecimento  por se sentirem exaustas e a precisar de baixar níveis de stress e ansiedade, sentem-se culpadas por tentarem tirar algum tempo para si mesmas. 

Seja a ler um livro, seja a descansar, seja um banho demorado.

O mais incrível, é que não fazem ideia porque se sentem assim, e, muitas vezes acham tão normal cuidar primeiro dos outros que nem se questionam.

Blog da Su | Dor e Sacrifício
Blog da Su | Dor e Sacrifício

Esta semana, na nossa live semanal, partilhei uma meditação, que nos ajuda a identificar se estamos a viver com esta crença de culpa nas nossas vidas, e o quanto investirmos tempo em nós mesmas, nos enche de confiança e autoestima.

Se não tiveste oportunidade de assistir, ainda vais a tempo, a live ficou gravada.

Mas, se ainda, não assististe, e, queres saber se estás a viver este padrão na tua vida, podes descobrir a resposta se responderes com honestidade a estas 3 questões:

  • alguma vez ouviste a tua avó, ou mãe dizer que descansar é para gente preguiçosa?
  • quando tiras tempo para ti, sentes que não estás a cumprir as tuas obrigações?
  • quando alguém te pede ajuda, é muito difícil dizer não?

Porque carregamos culpa

Anne Schützenberger, psicóloga e psicoterapeuta francesa conhecida pelos seus trabalhos com psico-genealogia, no seu livro, Legado Ancestral, mostra-nos que a culpa pode ser herdada de diversas formas:

  • Lealdade invisível: Mulheres que se sentem culpadas ao se priorizarem porque, inconscientemente, acreditam que estariam a "trair" as suas ancestrais que viveram em sacrifício.
  • Padrões de repetição: Filhas que seguem os passos das mães e avós, perpetuando o mesmo ciclo de desconexão com as suas necessidades.
  • Carga emocional herdada: Sentimentos de culpa que vêm de traumas familiares não resolvidos, como uma avó que perdeu um filho e nunca se permitiu resignificar essa dor.

Lembro-me de ir visitar a minha tia, a irmã mais velha da minha mãe, ao Alentejo. 

Costumava passar parte das minhas férias de verão na casa dela, que tinha sido a casa dos seus pais e irmãs. 

Lembro-me que achava estranho ela nunca ter mexido num só movel.

Achava estranho o quarto dela ter três camas, como achava estranho ela não ter casado. 

Quando perguntava à minha mãe porquê, ela respondia: a tia tinha de tomar conta dos avós, era a mais velha, alguém tinha de o fazer. 

Nesse tempo era assim. 

Quando perguntava porque é que ela nunca tinha casado, a minha dizia: alguma vez ela tinha tempo para namoricos, com as responsabilidades todas que carregava.

Será que esta lealdade para com os meus avós, foi fácil para a minha tia? 

Sei bem que não, afinal todos deixaram a casa que ela sempre tomou conta, para trabalhar e casar, e a minha tia ficou sozinha a cuidar dos pais. 

Mas quando estes faleceram passou o resto da vida, sozinha.

Isto foi o que aconteceu a muitas mulheres, lealdades que não lhes permitiram ser quem gostariam de ter sido, por se sentir culpadas de não ser o que os outros queriam que elas fossem.

Ferida Emocional da Culpa

A culpa que sentimos por nos priorizarmos, é um reflexo social e cultural que nos ensinou, geração após geração, que o nosso valor está ligado ao quanto conseguimos agradar, cuidar e sermos indispensáveis para os outros.

Aliás, foi assim que construímos a crença que o amor e a aceitação, dependem da nossa capacidade de servir, e este é sem dúvida um dos motivos mais relevantes para não cuidarmos de nós mesmas como cuidamos dos outros.

O problema é que este padrão, enfraquece a confiança em nós mesmas (ler artigo sobre confiança), e principalmente a nossa autoestima (ler artigo sobre autoestima) pois passamos a medir o nosso valor pelo olhar dos outros. 

Se somos elogiadas, sentimos que estamos no caminho certo. 

Se somos criticadas, ficamos inseguras e frustradas.

Precisamos de compreender que quando nos sacrificamos para corresponder às expectativas dos outros, estamos sempre à procura da validação que nos faz sentir merecedoras de amor e pertencimento. 

E isto é a base da dependência emocional que muitas mulheres sentem nas suas relações. 

A maioria das vezes, nem nos damos conta, que somos dependentes, porque o que sentimos é vontade de fazer o bem, de sermos responsáveis pelo bem estar dos outros. 

Mas, a verdade, é que depender dos outros para nos sentirmos bem, não nos traz bases sólidas de autoconfiança, ou autoestima, e muito menos nos permite ser verdadeiras.

Passou para nós através da nossa linhagem a crença que é normal estar disponível, antecipar as necessidades dos outros, colocar os outros em primeiro lugar, mesmo que não seja saudável, assim vamos vida fora.

Damos à espera de um dia sermos reconhecidas pelo nosso devido valor, damos à espera de receber o mesmo cuidado e amor que estamos a dar.

Mas, sejamos honestas a verdade é que nunca acontece, sentimos que não somos reconhecidas, e que é injusto dar tanto e receber tão pouco. 

Como se, apesar de todo o esforço, nunca fôssemos suficientes.

Facto é, que quando damos sem nos incluirmos na equação, criamos um vazio dentro de nós. 

Sentimo-nos falta de algo, que nem conseguimos explicar. 

Andamos à procura de aprovação, sem perceber que o problema não está na falta de reconhecimento externo, mas sim na falta de confiança e estima por nós mesmas, e claro na falta do único amor que podemos reconhecer como legitimo, o amor-próprio (ler artigo sobre amor-próprio).

O que acontece quando colocamos os outros em primeiro lugar:

  • Baixa autoestima e autoconfiança: Quando o nosso valor depende da validação dos outros, perdemos a confiança em nós mesmas. A nossa autoestima diminui, pois não conseguimos reconhecer a nossa importância.
  • Cansaço físico e emocional: O desgaste é uma consequência natural dos sacrifícios que fazemos por estarmos constantemente a atender às expectativas dos outros.
  • Relações desequilibradas: Acabamos por criar relações onde somos as cuidadoras, tornamo-nos dependentes da valorização exterior e isso cria uma sensação de vazio emocional.

O Caminho Para a Mudança: Como Resignificar Esta Ferida

Quando escolhemos colocar-nos em primeiro lugar, percebemos que o amor que oferecemos ao mundo precisa de começar por nós mesmas. 

E o mais bonito é que quando nos priorizamos, passamos a darmo-nos a partir de um sentimento de abundância, e não de escassez. 

Já não damos para ser aceites; damos porque estamos preenchidas, porque temos prazer em partilhar, porque estamos de bem com a vida, e aí sim tudo muda.

Quando nos sentimos bem connosco mesmas, em vez de carregarmos o peso da obrigação e do sacrifício, irradiamos autenticidade e leveza. 

E, por incrível que pareça, é nesse momento que o amor começa a fluir de forma harmoniosa nas nossas vidas. Sem esforço, sem frustração, sem ressentimentos.

Quando compreendemos a nossa história, abrimos espaço para a transformar, e mesmo que voltemos a sentir as mesmas crenças, sabemos como lidar com elas cada vez de um lugar de maior segurança e bem estar.

Há muitos anos que ensino, como a culpa é a responsável por não nos priorizarmos. 

Como ao herdarmos das nossas avós e mães esta crença, a manifestamos na nossa vida, até que tenhamos consciência dela e a possamos resignificar.

Ensino isto por a culpa também fazer parte do meu legado ancestral, e por já ter trabalhado em mim várias camadas desta culpa.

Sou tão grata por ter escolhido este caminho, sem ele não seria capaz de ajudar outras mulheres a associar que a culpa que sentimos quando nos priorizamos não é nossa, e que temos a escolha consciente de não a perpetuar nas nossas vidas. 

Permitindo-nos deixar um legado de menos sacrifício e mais leveza interior.

A boa noticia no meio de tudo isto, é que temos escolha!

E podemos começar a escolher desde já, que não precisamos nos sentir culpadas por cuidarmos de nós mesmas.

Mas, se não sabes como começar, aqui ficam algumas sugestões:

1.     Começa com pequenos gestos

Não precisas fazer mudanças radicais. Começa a dedicar 5 minutos do teu dia a ti mesma, podes escolher fazer uma meditação, uma pausa para respirar profundamente, ou simplesmente tomar uma chávena de chá sem pressa. O importante é escolher um momento para te conectares contigo mesma.

2.     Estabelece limites claros (ver artigo sobre limites saudáveis)

Definir limites saudáveis com a família, amigos e no trabalho é essencial. Isso não significa ser má ou fria, significa sim que estás a mostrar respeito por ti mesma.

3.     Investe no autocuidado

O autocuidado não precisa ser algo complicado. 

Pode ser um ritual de cuidado pessoal, como um banho quente, ler um livro, ou praticar yoga. O importante é dedicares tempo a ti mesma, sem sentir culpa.

Para mim, é totalmente inegociável reservar um momento só para mim todas as manhãs, ao acordar. 

Quando acordo preciso de estar sozinha, preparar o meu cacau dourado, meditar e fazer algumas posturas ou sequencias de yoga (ler artigo sobre práticas integrativas ). 

De início não foi fácil, habituada a acordar com os problemas do dia anterior para resolver, chateada e cansada, a servir os outros, a minha mente arranjava sempre desculpas, para não começar a cuidar de mim e do meu bem estar. 

Mas, passo a passo, comecei a priorizar as minhas necessidades e o resultado foi transformador. 

Agora, as minhas manhãs são sagradas, acordo bem disposta com vontade de iniciar mais um dia. 

Sinto que as minhas manhãs são um ponto de restruturação para o novo que está por chegar. 

A verdade, é que quando me priorizei, e deixei de sentir culpa por isso, tudo mudou. 

Mudou, a minha relação comigo mesma, mudou a interação com o meu companheiro, e até a forma como me relaciono com o mundo ao meu redor.

Sequência de Yoga: bases para a coragem de te colocares em primeiro lugar

Convido-te a cuidar de ti mesma, sem sentires culpa.

A proposta é conquistarem a Postura da Montanha e a Postura da Deusa, e perceberem como se sentem. 

Estas duas posturas praticadas juntas, fortalecem os nossos valores, dando-nos clareza e coragem para nos colocarmos em primeiro lugar.

Benefícios Físicos e Emocionais:

  • Postura da Montanha (Tadasana):

Físicos: Melhora a postura, fortalece os músculos das pernas e costas, alonga a coluna, e melhora a estabilidade.

Emocionais: Ajuda a cultivar uma sensação de bases estáveis, o que é essencial quando decidimos priorizar-nos. Potencia a sensação de que estamos firmemente enraizadas na nossa essência.

  • Postura da Deusa (Utkata Konasana):

Físicos: Aumenta a força das pernas, quadris e core. Estimula os músculos internos e promove flexibilidade nas coxas e tornozelos.

Emocionais: Potencia a coragem e a confiança. Esta postura simboliza a capacidade de abrir espaço para cuidarmos das nossas necessidades.

Como Fazer a Sequência:

  • Postura da Montanha (Tadasana)

Começa de pé, com os pés alinhados à largura das ancas. 

Mexe ligeiramente os dedos dos pés como se agarrassem o tapete. 

Sente os teus pés bem firmes no chão. 

Ativa a força no interior das coxas, alongando um pouco mais as pernas.

Relaxa os braços ao lado do corpo, com as palmas das mãos voltadas para fora, "leva" o umbigo na direção da coluna, alongando-a conscientemente.

Queixo paralelo ao chão, escolhe um ponto à tua frente que te traga foco.

Abre o teu peito, inspira e "leva" os ombros às orelhas, expira e roda os ombros para trás e para baixo. 

Respira profundamente pelo nariz, e sente como cada inspiração te fortalece. Mantém a postura por 5 a 10 respirações.

  • Postura da Deusa (Utkata Konasana)

Da postura da Montanha, abre os braços à altura dos ombros, com os dedos das mãos a apontar para o tapete. 

Afasta as pernas à largura das mãos, vira os pés para fora num ângulo de 45º.

Dobra as pernas para descer as ancas. 

Ombros relaxados, braços estendidos para os lados, antebraços voltados para cima com as palmas das mãos voltadas para a frente. 

Respira naturalmente pelo nariz. 

Mantém a postura por 5 a 10 respirações, sente a força e a coragem, te encherem dos pés à cabeça. 

Sempre que precisares sobe suavemente as tuas ancas para descansar um pouco, antes de voltar a baixar.

  • Integração

Após a postura da Deusa, volta devagar para a Postura da Montanha e sente a conexão com os teus valores, com a tua base. 

Respira profundamente, fecha os olhos por um momento, e sente os balanços do corpo, enquanto te permites refletir sobre a transformação interna que aconteceu ao teres escolhido priorizar o teu bem estar.

Esta sequência de yoga é uma excelente forma construir bases sólidas para uma vida mais equilibrada e autêntica, física e emocionalmente. 

Gosto de relembrar que a prática de yoga, não é apenas sobre o que fazemos no tapete com o nosso corpo físico, mas sim sobre a transformação interna que sentimos a cada postura, quando refletimos nas sensações que cada postura nos trás.

Exercício Prático: O Que Acontece Quando te Priorizas?

Agora que terminaste a prática de yoga, convido-te a sentir como a tua mente ficou mais clara, e as tuas emoções mais fáceis de identificar. Vais precisar de papel e caneta.

  1. Escreve três situações, recentes, onde sentiste que não cuidaste de ti para cuidar dos outros (pode ser no trabalho, na família ou com amigos).
  2. Escreve como te sentiste nesses momentos? Escreve sem julgamentos, permite que a escrita te mostre a verdade.
  3. Pensa novamente numa destas situações, mas imagina que te tinhas priorizado. E escreve o que teria sido diferente para ti, e para os outros?

Não existem respostas certas, este exercício serve para mudares as sinapses das tuas células, ao permitires-te identificar como te sentes quando te priorizas.

Concluindo, gostaria de voltar a repetir que priorizarmo-nos não é um ato de egoísmo, mas sim de autocuidado que traz equilíbrio para todas as áreas da nossa vida. 

Este é um passo fundamental para resignificar a culpa que herdámos da nossa linhagem; resgatar poder pessoal e identificar o nosso verdadeiro valor.

Se este artigo ajudou de alguma forma, não deixem de o partilhar com outras mulheres que precisem deste conteúdo.

Com Amor

Su

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