Conhecer o Que Herdámos, Permite Escolher Quem Somos
Bem-vindas a este espaço de partilha, onde exploramos ensinamentos de yoga e práticas de autoconhecimento que ajudam a criar versões mais saudáveis e conscientes de nós mesmas.
No artigo anterior falámos de como semear confiança em nós mesmas.
E, embora, todos os passos que vos deixei nos ajudem a ser mais confiantes, existe algo de muito importante que precisamos saber quando queremos pensamentos, emoções ou comportamentos que não nos permitem sentir bem.
E esse algo é a nada mais, nada menos que a raiz das crenças que nos limitam.
Na minha definição, autoconhecimento é a arte de olhar para dentro e questionar:
- que crenças herdei da minha linhagem feminina, que não me permitem avançar?
- como será que a minha infância condiciona a minha realidade?
- que pensamentos, emoções ou comportamentos quero mudar?
Estas 3 questões resumem perfeitamente as raízes de todos os processos de autoconhecimento.
Neste artigo, vamos por explorar as crenças que herdámos da nossa linhagem feminina, tendo em conta a relação que temos com a nossa mãe.
Esta exploração irá permitir-nos compreender se queremos manter tudo o que herdámos, ou se queremos resignificar algumas experiências escolhendo manter apenas o que nos faz bem.
Gostava de começar por vos convidar a refletir em quem realmente somos e como chegámos aqui?
Primeiro, precisamos de saber que, a nossa linhagem feminina não é apenas a nossa linha de sangue, mas sim uma rede emocional, cultural e energética que conecta as mulheres da nossa família ao longo das gerações (ver artigos sobre dons e dores da nossa linhagem).
Quando, nos predispomos a refletir sobre o impacto que esta linhagem possa ter na nossa vida, podemos facilmente compreender como as crenças não resolvidas das nossas mães, avós e bisavós se manifestam em nós.
A herança que nos chega da nossa linhagem feminina é uma força maioritariamente invisível, que nos chega através de histórias, crenças e experiências que moldam a forma como nos vemos a nós mesmas, e, ao mundo.
Reconhecer as nuances dessa herança é o primeiro passo para nos libertarmos de padrões repetitivos, que já não nos servem, e começarmos a escolher conscientemente quem queremos ser.
Reconhecer o Que Herdámos
Para entender o que herdámos, é fundamental observar os padrões que se repetem na nossa vida.
Podem ser certos pensamentos, sentimentos ou comportamentos, que repetimos sem saber porquê, mas quando observados conscientemente permitem-nos reconhecer que não são totalmente nossos, e que provavelmente já vivem na família há muitas gerações.
Clarissa Pinkola Estés, ensina-nos que esses padrões ancestrais repetem-se de forma tão subtil que nem sempre os conseguimos identificar; no entanto, trazê-los à consciência, permite-nos escolher se vamos continuar a repeti-los ou se vamos criar novos caminhos.
Estes padrões podem surgir na maneira como lidamos com o amor, com o sucesso, com o medo, ou até mesmo na forma como nos relacionamos com o nosso corpo.
A meu ver, a relação com a nossa mãe, é a chave para compreender as forças e limitações que herdámos ao longo da nossa linhagem, por isso neste artigo vamos aprofundar o conteúdo sobre ancestralidade, através da relação com as nossas mães, e, como essa relação nos está a influenciar presentemente.
A Relação com a Mãe: A Primeira Influência
Bert Hellinger, conhecido por desenvolver as Constelações Sistémicas Familiares, procura revelar dinâmicas não visíveis nos sistemas familiares, que promovam a reconciliação com a nossa ancestralidade.
O seu trabalho baseava-se na ideia de que padrões não resolvidos podem ser transmitidos através das gerações, influenciando a vida dos descendentes. Uma de suas frases mais conhecidas é
"Mãe é vida"
Esta frase, destaca a importância da reconciliação com a figura materna para o fluxo saudável da existência.
Reconhecer e honrar, quem nos trouxe à vida, é um passo essencial para podermos libertar padrões que não nos servem.
A relação com a nossa mãe (figura materna) é a primeira e mais significativa de todas as relações humanas, representando o início da formação da nossa identidade, onde as forças do amor, da segurança e da aceitação são modelados.
No entanto, temos tendência a esquecer que as nossas mães também são mulheres que carregam as suas próprias dores, limitações e histórias não resolvidas.
Claro que essas marcas da vida, se não foram resignificadas são transmitidas de forma totalmente inconsciente à descendência.
Só quando entendemos que a forma como nos relacionamos com a nossa mãe, impacta a forma como nos relacionamos com o mundo ao nosso redor, é que podemos curar essas feridas transgeracionais e deixar um novo legado na nossa descendência.
Papel da Mãe na Nossa Visão do Mundo
As histórias que as nossas avós contaram às nossas mães – ou a falta delas – moldaram a forma como as nossas mães veem o mundo, e provavelmente a forma como nós mesmas o vemos, consciente ou inconscientemente.
Deixem-me dar-vos um exemplo, para percebermos melhor:
A imagem que as nossas avós passaram para as nossas Mães, a crença que foi muito difícil sobreviver, que tiveram de se sacrificar muito para conseguir alimento para a família, que passaram muita fome, que viviam sempre cheias de medo.
Como acham vocês que as nossas mães passaram a ver o mundo?
Acredito que inconscientemente adotaram a mesma postura na vida, que só batalhando muito é que se consegue alguma coisa, que a vida é difícil e precisamos de muita força para sobreviver.
Posto isto, como acham vocês que nós vemos o mundo sendo as netas e as filhas de tanta dor?
Pois é! Vemos exatamente da mesma forma, sob a crença da escassez, do sacrifício e da dor.
E, como acham vocês que nos vamos comportar ao longo da vida, se é esta é a nossa crença transgeracional?
Agora, imaginem que as nossas avós passaram às nossas mães, a crença de que basta acreditar na vida para que a vida lhes forneça tudo o que precisam, que nunca lhes irá faltar absolutamente nada, que agradecer lhes encherá sempre o coração de prosperidade.
Como acham vocês que as nossas mães viriam o mundo?
Acredito que seriam filhas do bem estar, da confiança e da resiliência.
E sendo nós as netas e filhas destas crenças, como será que encararíamos o mundo?
Provavelmente, com a crença que a vida é segura, e, que temos à nossa disposição tudo o que precisamos para ser felizes!
Reconhecer o impacto do que foi transmitido pela nossa linhagem mais próxima, permite-nos questionar se a história que contamos a nós mesmas é verdadeiramente a que queremos contar às gerações futuras.
Se tiveram a oportunidade de fazer a meditação da nossa live semanal, puderam sentir o que herdaram da vossa mãe e como isso vos impactou, com certeza que agora estão prontas para os convites que vos irei fazer ao longo dos próximos parágrafos.
Caso não tenham assistido, não deixem de o fazer para que o conteúdo deste artigo vos deixe ainda mais conscientes.
Reconhecer e Libertar Padrões Herdados
Reconhecer os padrões herdados, necessita de observação interna, de muita introspecção (ver artigo sobre diálogo interno).
Muitas vezes, os padrões herdados, manifestam-se como:
- medo de se expressar,
- dificuldade em estabelecer limites,
- tendência em nos anularmos por medo da rejeição,
- acreditar que a vida é muito difícil.
No programa de autoconhecimento que facilito, atualmente, abordamos o impacto da ancestralidade nas nossas vidas, e, principalmente como a relação com a nossa mãe influencia as nossas crenças atuais (Link - programa).
Este processo permite, desde a primeira semana, que muitas mulheres consigam identificar se os pensamentos, sentimentos e comportamentos que as limitam, são realmente delas ou se são apenas crenças herdadas.
Quando conseguem fazer esta distinção, conseguem libertar um peso gigante dos seus corpos e mentes.
E. este, é um passo essencial para criarem a versão delas mesmas que mais desejam ver no mundo. Se sentes que está na hora de dares este passo, não deixes de me enviar uma mensagem para conversarmos.
Conexão com as Nossas Raízes através do Yoga
Refletirmos sobre o que herdámos das nossas mães e da nossa linhagem, permite-nos perceber como as nossas raízes, tanto físicas quanto emocionais, influenciam a nossa capacidade de "crescer" saudáveis e de forma consciente.
O yoga permite-nos uma conexão profunda com a nossa essência, e com tudo o que somos – incluindo o que herdámos.
À medida que mantemos posturas como as de equilíbrio e enraizamento, que exigem atenção e presença, podemos ligar-nos a áreas do corpo que carregam tensões emocionais relacionadas com a nossa linhagem.
A prática consciente dessas posturas, somada à reflexão sobre o que estamos a carregar, permite-nos escolher libertar o que não serve mais e fortalecer o que desejamos cultivar.

A Postura da Árvore (Vrksasana)
Quando praticamos a Postura da Árvore, estamos literalmente a enraizar os pés na terra, sentindo a força da estabilidade que o solo nos oferece.
Benefícios Físicos e Emocionais da Postura da Árvore
Fisicamente, a Postura da Árvore melhora o equilíbrio, o foco e a consciência corporal. Fortalece as pernas, melhora a postura e traz alinhamento ao corpo e à mente.
Emocionalmente, conecta-nos com a força das nossas raízes e com os padrões herdados da nossa linhagem feminina.
Esta postura convida-nos a questionar; o que estamos a carregar das nossas raízes que nos fortalece, e o que precisamos deixar ir para poder evoluir.
Prática Introspetiva com a Postura da Árvore
Gostava muito que experimentassem a estabilidade que a postura da arvore nos traz, e principalmente a profunda conexão que podemos sentir com as nossas raízes antepassadas.
Para isso, convido-vos a integrar a reflexão sobre as nossas raízes e a nossa linhagem feminina numa prática simples de yoga.
Encontrem um lugar onde se sintam confortáveis para praticar.
- Enraizar: De pé, com os pés paralelos, permitem-se sentir o contacto das plantas dos pés com o chão. Se for confortável, fechem os olhos e imaginem dos vossos pés crescem longas raízes que perfuram a terra e descem profundamente. Sintam a estabilidade que esse momento vos traz.
- Abraçar a Flexibilidade: Levantem um pé e sintam os balanços do corpo, até estabilizarem. Quando já estiverem estáveis, experimentem encostar a palma do pé à vossa ante perna, se continuarem estáveis subam o pé um pouco mais até à coxa interna, conquistando a postura da árvore. Sintam a força que vem das vossas raízes vos permitir manter equilíbrio na postura, independentemente dos balanços e oscilações da mente. (façam a postura para os dois lados, trocando a perna de apoio)
- Reflexão: Enquanto mantêm a postura com a perna esquerda, perguntem-se:
- O que estou a carregar das minhas raízes, da minha linhagem feminina, que me fortalece?
Enquanto mantêm a postura com a perna direita, perguntem-se
- O que estou a carregar que já não me serve mais?
Respirem profundamente e permitam-se sentir as respostas.
Momento de introspecção
Agora que estamos mais enraizadas e centradas, podemos avançar para um exercício sistémico que nos irá ajudar a identificar e a resignificar os padrões da nossa linhagem de forma clara e transformadora.
Exercício: Identificar os Dons e as Dores da nossa Mãe
- Material necessário: Dois papéis ou folhas.
- Instruções:o Numa folha escrevam os "dons" que acreditam ter herdado da vossa mãe (qualidades, virtudes, forças).
- Noutra folha escrevam as "dores" que acreditam ter herdado (medos, limitações, traumas).
- Coloquem as folhas à vossa frente, e observem as duas.
- Perguntem-se:
Quais desses dons ainda fazem parte de mim, fortalecendo a minha vida?
E quais dessas dores estou a carregar sem necessidade?
- Permitam-se sentir as emoções que surgem ao observar tanto os dons como as dores.
Reconhecer essas influências, permite-nos criar consciência do poder que temos para escolher o que desejamos carregar e o que desejamos transformar.
Conclusão: O Poder da Escolha
Quando olhamos com amor e aceitação para a nossa linhagem, honramos as mulheres que vieram antes de nós, reconhecemos os seus dons e dores, e, com isso, ganhamos o poder de escolher quem queremos ser.
Honrarmos a nossa mãe e a nossa linhagem, dá-nos a oportunidade de libertar aquilo que já não nos serve e criar um futuro mais consciente para nós mesmas e para as futuras gerações.
O autoconhecimento é a chave para esta transformação, e ao praticarmos o yoga e outras ferramentas de conexão corpo, mente e alma podemos integrar as lições das nossas raízes, de forma saudável e consciente.
Espero que este artigo vos inspire a olhar para as vossas mães com amor, independentemente das situações vividas.
Esse amor será a chave da vossa transformação.
Se este artigo vos trouxe bem estar, partilhem-nos com outras mulheres que também precisem.
Com Amor
Su