Como o Silêncio nos Pode Ajudar
Como o silencio nos ajuda a despertar a nossa força interior
Bem-vindas a este espaço de partilha, de ensinamentos de yoga e práticas de autoconhecimento, que nos ajudam a criar versões de nós mesmas, mais saudáveis e conscientes.
Esta semana, proponho refletirmos sobre o poder do silêncio.
Escolher o silêncio não como um botão que nos afasta do mundo exterior, mas como uma ferramenta que nos permite escutar as mensagens do nosso coração e da nossa intuição (ver artigo – Olhar Para Dentro), de maneira a sentirmos mais equilíbrio na nossa jornada.
Ao longo deste artigo, vamos explorar como a prática de escolher estar em silêncio pode revelar capacidades que despertam uma confiança profunda em nós mesmas, que possamos estar a precisar relembrar que temos.

O Poder Transformador do Silêncio
No yoga, o silêncio é considerado uma prática ancestral de autoconhecimento e auto-observação.
Chamada de "mauna" em sânscrito, essa prática vai além de simplesmente não falar; trata-se de criar espaço para ouvir a voz interna e observar os movimentos da mente sem julgamento.
Quando cultivamos o silêncio, conectamo-nos à sabedoria do corpo e à nossa verdadeira essência.
Mirabai e Amma são duas grandes figuras espirituais que nos mostram como o silêncio pode ser transformador.
Mirabai foi uma poetisa e devota do século XVI que dedicou a sua vida à contemplação espiritual e à conexão com o divino, encontrando no silêncio interior a sua força e inspiração para as suas poesias devocionais.
Amma, conhecida como a "santa dos abraços", é uma líder espiritual contemporânea que frequentemente utiliza a prática do "mauna" como uma forma de introspeção profunda e como caminho para fortalecer a conexão com o divino.
Ambas são grandes inspirações de como o silêncio é uma ponte poderosa para o autoconhecimento e a compreensão interior.
Para praticar silêncio, precisamos integrar que não estamos apenas a falar da ausência de "barulho", mas sim de um estado de presença que nos permite uma conexão profunda com o nosso mundo interno.
Na verdade, sempre que nos afastamos da reatividade automática ao "barulho" externo, aprendemos como
- Reconhecer a nossa verdadeira força:
O silêncio funciona como um espelho onde podemos observar capacidades escondidas.
- Acolher as nossas vulnerabilidades:
Quando praticado como processo de autoconhecimento, o silêncio traz serenidade mental e emocional, criando um espaço seguro para sentirmos e entendermos as nossas fragilidades, permitindo que as transformemos em caminhos de crescimento.
O Silêncio Como Caminho para a Autocompreensão
Sem nos darmos conta, tornamo-nos muito mais reativas do que ativas.
Ser reativa é uma resposta comum ao stress acumulado (ver artigo – Desacelerar ), ao qual nos acostumamos a viver.
Afinal, quando não reagimos de imediato, damos espaço para:
• Processar as emoções de forma mais clara.
• Responder de maneira mais alinhada aos nossos valores e objetivos.
Refletir sobre situações em que sentimos que estamos a ser reativas é uma excelente oportunidade para silenciar e observar o que se passa no nosso mundo interior.
Da próxima vez que se sentirem entrar em modo reativo – por exemplo, numa discussão sem fim para ver quem tem razão, ou numa conversa difícil onde é preciso expressar sentimentos – parem alguns instantes e façam esta simples pergunta a vocês mesmas:
"O que aconteceria se eu me observasse sem reagir?"
Esta pergunta pode trazer mais clareza sobre as nossas emoções e intenções, ajudando-nos a escolher o melhor momento para esclarecer o que precisamos.

A Minha Experiência com o Silêncio Como Prova de Força Interior
Para mim, cultivar o silêncio é uma forma de construir resiliência e confiança interna.
É nos momentos em que escolho o silêncio, que tenho a percepção dos meus verdadeiros valores e do que realmente está a acontecer comigo.
A primeira vez que experimentei um dia inteiro de silêncio consciente, foi quando fui à Índia num retiro de yoga, e nos foi proposto um dia de silêncio para nos conectarmos com o nosso mundo interior.
Embora há muito tempo desenvolva programas de introspecção, ainda não tinha experimentado passar um dia inteiro na companhia de outras pessoas sem dizer uma única palavra.
E foi incrível o que descobri sobre mim mesma nesse dia.
Ao longo desse dia, percebi que existia um vazio que ia crescendo em mim quando ficava em silêncio.
Comecei a ficar curiosa com esse vazio e, ao observar de onde ele vinha, percebi que estava ligado à minha infância.
Esse vazio levou-me à minha infância, aos momentos em que o meu pai ficava sem falar comigo, durante vários dias, por se ter zangado comigo.
Percebi que interpretei esses momentos de silencio, como momentos de profunda rejeição, o que fez com que ao longo do meu crescimento, usasse o silencio sempre que estava zangada, ou magoada com algo ou alguém.
Mas nesse dia, em silencio consciente, finalmente compreendi que esse silêncio era uma expressão da rejeição que me fazia sentir sozinha e por isso o tal vazio.
Essa experiência permitiu-me resignificar a zanga e a mágoa da infância, transformando o silêncio num espaço de fortalecimento e conexão interna.
A minha experiência demonstrou, na prática, algo que especialistas em autoconhecimento e medicina integrativa têm vindo a reforçar: os traumas da infância não desaparecem, mas ficam armazenados no nosso corpo e na nossa psique, influenciando as nossas reações, crenças e até a nossa saúde física.
Lise Bourbeau, autora de "As Cinco Feridas da Alma", explica que cada ferida emocional adquirida na infância molda a forma como nos relacionamos connosco mesmas e com os outros, levando-nos a repetir padrões inconscientes de dor e proteção.
Nicole LePera, psicóloga e autora de How to Do the Work, enfatiza que os traumas infantis ficam registados no nosso sistema nervoso e podem ser a raiz de comportamentos automáticos que nos impedem de avançar.
No meu programa de autoconhecimento , dedicamos a segunda semana a regressar a essas memórias da infância para reconhecer as crenças limitantes que carregamos e que, muitas vezes, ainda controlam as nossas escolhas.
Quando olhamos para essas feridas com consciência, damos um passo essencial para transformar padrões e criar versões mais equilibradas de nós mesmas.
Explorar o Silêncio no Dia a Dia
Incorporar momentos de silêncio pode parecer desafiador no início, mas estas dicas vão ajudar-vos a começar:
- Definir momentos no vosso dia para ficar em silêncio, mesmo que sejam apenas 5 minutos. (Se necessário, marquem esses momentos na agenda.)
- Criar um espaço especial e confortável onde possam simplesmente estar convosco mesmas.
Se sentes que gostavas de experimentar, mas não sabes por onde começar, convido-te a assistir à meditação guiada que fiz na live desta semana no meu Instagram.
E, se desejas um acompanhamento mais profundo e personalizado para explorar práticas como esta e fortalecer a tua relação contigo mesma, o meu programa individual de autoconhecimento pode ser para ti.
Envia-me uma mensagem para saber mais!
Para a semana, volto com mais um artigo sobre práticas de autoconhecimento através dos ensinamentos do yoga.
O tema será: Como largar peso emocional excessivo.
Um passo essencial para libertar aquilo que já não nos serve e avançar mais leves na jornada do autoconhecimento.
Amor e gratidão,
Su