A Vida Não É Uma Luta
Acreditar que a vida é uma luta, não nos leva ao sucesso
Bem-vindas a este espaço de partilha, onde exploramos ensinamentos de yoga e práticas de autoconhecimento, que nos trazem equilíbrio e transformação emocional.
Como vocês sabem, nestas últimas semanas, temos estado a refletir em como as crenças que herdámos das mulheres da nossa linhagem influenciam a nossa vida atual.
A semana passada, vimos quanta culpa carregamos quando tentamos nos priorizar.
Esta semana, vou mostrar-vos uma outra crença herdada, bem comum à grande maioria das mulheres, o impacto que tem na nossa vida, acreditarmos que a vida é cheia de sacrifício.
O Peso do Sacrifício
Para conseguirmos algo na vida, precisamos de muito sacrifício!
Com certeza, que já ouviste esta frase. Mas, quantas vezes te apanhaste a vivê-la como se fosse uma verdade absoluta?
Na verdade, desde pequenas, que somos ensinadas a acreditar que nada se consegue sem sofrimento e muito sacrifício pessoal.
Esta é mais uma crença que herdamos de geração em geração, sendo profundamente reforçada pelas histórias das mulheres que vieram antes de nós.
A questão que iremos desmistificar ao longo deste artigo é se esta é a única forma que temos para viver, e quais as consequências deste tipo de crença nas nossas vidas.
Comecemos por descobrir um pouco mais da origem desta crença:
O Sacrifício faz-nos Acreditar Que a Vida É uma Luta Constante pela Sobrevivência
Convido-vos a refletir nestes três aspectos, da origem desta crença:
- A necessidade de sobrevivência da nossa linhagem feminina.
- A conquista de igualdade, através do perfeccionismo e controlo
- A crença de que a abundância é para os outros, não é para nós.
Ao longo da história, muitas mulheres foram forçadas a sacrificar os seus sonhos e necessidades para garantir a sua própria sobrevivência, não apenas física, mas também emocional e social.
Esse sacrifício, embora necessário, gerou a sensação de perda, tanto individual quanto coletiva.
Refletir sobre como essas mulheres se viam e como isso se reflete em nós, é a base do caminho do autoconhecimento.
A realidade é que hoje, ainda perpetuamos o sofrimento que essas mulheres passaram, sem mesmo nos darmos conta.
Ficou tão impregnado em nós que a vida é dura, que atualmente ainda muitas mulheres acreditam que precisam de "lutar" constantemente, seja por espaço, reconhecimento ou felicidade.
Mas, a questão é que esta mentalidade de luta ensina-nos algo muito limitador, que é não sermos merecedoras de uma vida próspera e abundante, porque isso é só para gente privilegiada.
Nos dias de hoje, trabalhar arduamente e renunciar aos prazeres da vida, ainda são vistos como virtudes, e a meu ver esse é o caminho que nos leva a assistir a cada vez mais mulheres com depressões, esgotamentos nervosos, burnout, para não falar da eterna sensação de solidão, cansaço e ansiedades que os resultados do sistema mundial de saúde nos fazem conhecer.
Acredito, que todas temos o direito a uma vida plena, em qualquer aspecto sejam relacionamentos, saúde ou mesmo finanças.
Mas, para isso precisamos de nos responsabilizar pelo tipo de pensamentos que nutrimos, e se o que pensamos não nos permite acreditar que só por estarmos vivas já somos merecedoras, então com certeza iremos perpetuar a dor dos sacrifícios das nossas ancestrais.
Não acredito, que tenhamos vindo à vida para sofrer, sei por experiência que passamos por muitos desafios que provocam dor, mas acredito profundamente que a nossa essência não é perpetuar essa dor com sofrimento e sacrifício.
A nossa essência é de nos ultrapassarmos para transpor os desafios que a vida nos oferece, com uma fé inabalável (ver artigo - coragem) de que tudo tem a sua razão de ser, e que se estamos vivas é para ser felizes, prosperas no nosso crescimento através das forças do amor e da gratidão por todas as experiências pelas quais possamos passar.
Partilho tudo isto, porque precisamos saber que existe uma diferença muito grande em viver uma dor e perpetuar o sofrimento dessa dor; seja numa crença herdada, seja numa crença construída na nossa infância, seja num momento doloroso da nossa vida adulta.
Vejamos alguns aspectos desta reflexão:
- A dor é natural e inevitável em certos momentos da vida, mas o sofrimento prolongado geralmente vem da resistência à mudança. Reconhecer essa diferença permite-nos escolher um caminho mais consciente, libertando-nos de padrões que já não nos servem.
- Muitas vezes, mantemos crenças ou relações porque acreditamos que abandoná-las seria desrespeitoso com a nossa história ou ancestralidade. No entanto, podemos honrar a nossa trajetória sem carregar fardos desnecessários, permitindo que a transformação aconteça com amor e respeito.
- Sentir uma emoção não significa que precisamos nos identificar com ela para sempre. Podemos acolher a tristeza, a raiva ou o medo, permitindo que sejam processados e liberados, sem que essas emoções definam a nossa identidade.
- Libertar-se do sofrimento não significa negar o que aconteceu, mas sim dar um novo significado à experiência. Podemos transformar dores em aprendizagem e criar novas formas de viver as nossas histórias.
Este não é um tema de uma só mulher, este é um tema de todas nós, se queremos ver mudanças na nossa sociedade que respeitem os direitos da essência da Mulher enquanto Mulher e enquanto Mãe.
Claro que, as mulheres que nos precederam viveram tempos onde sobreviver significava, muitas vezes, sacrificarem-se.
O trabalho duro, a renúncia e a luta eram essenciais.
Mas, por lealdade a esta crença, com o passar do tempo, fomos mantendo a mesma postura, mesmo quando para a grande maioria de nós a realidade seja tão diferente.
O medo de não sermos vistas como merecedoras ainda nos leva a querer provar o nosso valor através do esforço excessivo, e isto vem do facto de acreditarmos no nosso interior que na verdade não somos mesmo merecedoras.
Como Esta Crença Impacta o nosso Presente?
- Vivemos na insatisfação permanente: Sentimos que nunca temos o suficiente, que é preciso sempre mais esforço.
- Somos perfeccionistas e controladoras: O medo de falhar faz-nos querer ser perfeitas e controlar tudo e todos em nosso redor.
- Somos Hiper-racionais: Confiamos apenas na lógica, estamos totalmente desconectadas da nossa intuição, ou seja, vivemos de costas voltadas ao que sentimos ser melhor para nós mesmas.
Sintomas que o corpo nos mostra, de que estamos a nutrir Esta Crença
Segundo Inna Segal, no seu estudo sobre a linguagem do corpo, quando carregamos crenças de sacrifício excessivo, o nosso corpo dá vários sinais, como:
- Problemas respiratórios (como falta de ar ou aperto no peito) – relacionados à sensação de estar sempre pressionada, sem espaço para simplesmente existir.
- Tensão no maxilar e dores de cabeça – resultado do esforço constante para "aguentar" tudo como uma guerreira, e da constante repressão de emoções.
- Dores nas articulações, especialmente nos joelhos – dificuldade em flexibilizar-se perante a vida, sentindo que tudo tem de ser conquistado com muito esforço.
- Cansaço nos olhos e visão turva – dificuldade em ver caminhos mais fáceis e alternativos, insistindo na dureza da vida.
- Alterações no ciclo menstrual – quando vivemos em constante stress e sacrifício, o corpo pode sentir que não é seguro ser mulher ou até ser fértil.
A Guerreira da sobrevivência
A crença de que a vida é um sacrifício, leva as mulheres a se tornarem "guerreiras de sobrevivência", em constante luta para garantir que as suas necessidades básicas sejam atendidas, que os seus entes queridos sejam cuidados, e que o mundo à sua volta funcione de acordo com as expectativas externas.
Esta mentalidade de sobrevivência advém de contextos de opressão, desigualdade de gênero e responsabilidades sociais excessivas.
O papel da guerreira de sobrevivência está associado à masculinização da energia feminina, especialmente na ideia de que a mulher precisa "agir como um homem" para ser valorizada.
Essa energia de luta constante, de controlo e de ação incessante, em muitos casos, acaba por anular as qualidades do feminino, como a intuição, a receptividade, a criatividade e a fluidez.
A mulher "guerreira" pode se distanciar da sua energia mais suave e intuitiva, sentindo-se como se precisasse sempre demonstrar sua força em detrimento de seu equilíbrio emocional.
Para podermos libertar esta crença, precisamos de começar por ter consciência absoluta que a vida não precisa ser um sacrifício constante e que nós mulheres não precisamos de ser sempre fortes, para sermos respeitadas e valorizadas.
Para mim, o autoconhecimento é a chave para nos libertarmos desta crença de guerreiras da sobrevivência.
Quanto mais aprofundamos nas crenças que nos foram transmitidas, e na nossa própria história, mais facilmente identificamos os padrões de sacrifício que aprendemos e mais facilmente podemos escolher não os perpetuar.
No programa de autoconhecimento , trabalhamos com meditações ativas e práticas de , que nos ajudam a reconectar com estes padrões herdados, de forma a nos conectarmos com essência da nossa verdadeira guerreira, que nos ensina a confiar em nós mesmas de forma coerente e equilibrada.
Se sentes que tens estado a viver a guerreira da sobrevivência e gostavas de libertar esta crença, mas sentes que sozinha não é fácil, convido-te a enviar-me uma mensagem para vermos juntas como organizar o programa de autoconhecimento à tua medida.
Outro aspecto muito importante do autoconhecimento, é sabermos que sempre que manifestamos na nossa vida uma crença limitante (ver artigo sobre crença limitante), ela esconde algo mais profundo que são as nossas feridas emocionais.
E por trás da crença de que a vida só é justa para quem se sacrifica, existe a ferida do não merecimento de que já começamos a falar anteriormente, mas que vos apresento resumidamente, em seguida:
Ferida da Indignidade: "Não sou merecedora"
- Acreditamos que não somos naturalmente dignas de receber coisas boas sem esforço extremo.
- Vemos o descanso, o prazer e a abundância como prémios "ganhos" e não como direitos naturais.
- Colocamos os outros sempre em primeiro lugar para validar o nosso valor.
5 Passos para Resignificar Esta Crença
- Perceber que esta crença é uma defesa, não um destino.
- Aprender a confiar mais e controlar menos.
- Aceitar que o valor pessoal não depende do sacrifício.
- Abrir-se para a abundância e para uma nova forma de viver.
- Pensar na vida como um sucesso, e viver esse sucesso em tudo o que nos acontece
Prática de Yoga: A Força da Guerreira
O yoga é composto de várias áreas, uma delas, a mais conhecida são os ásanas, ou posturas.
Uma postura que gosto muito de trabalhar em mim mesma, e nas minha aulas e sessões é a postura da Guerreira, por nos ajudar a compreender o equilíbrio entre força e suavidade.
Por isso preparei uma sequência com três variantes da postura da guerreira, onde podemos sentir o despertar do nosso brilho interno, da confiança em nós mesmas, reduzindo sensação de luta e guerra interior.
Passo a Passo da Sequência das Guerreiras:
- Postura da Guerreira II (Virabhadrasana II)
- Começa em pé na parte da frente do tapete.
- Dá um passo grande para trás com o pé direito, alinhando-o paralelo à borda do tapete. O pé da frente (esquerdo) fica apontado para a frente.
- Dobra o joelho esquerdo a 90 graus, garantindo que não ultrapasse o tornozelo.
- Mantém os braços abertos na linha dos ombros, com as palmas das mãos voltadas para baixo.
- Olha para a mão esquerda e mantém a respiração estável por algumas respirações.
- Postura da Guerreira Invertida (Viparita Virabhadrasana)
- Mantendo a base da Guerreira II, gira a palma da mão esquerda para cima.
- Inclina o tronco para trás, elevando o braço esquerdo em direção ao teto enquanto a mão direita desliza suavemente pela perna direita.
- Mantém o olhar para a mão de cima ou para o lado, conforme for confortável.
- Respira profundamente, sentindo o alongamento ao longo do lado esquerdo do tronco.
Postura da Guerreira Submissa (Baddha Virabhadrasana)
1. Volta para a Postura da Guerreira II.
2. Entrelaça as mãos atrás das costas, juntando as omoplatas e abrindo o peito.
3. Mantendo a base firme, inclina o tronco para frente e em direção ao joelho da frente, levando os braços para cima e para longe das costas.
4. Relaxa a cabeça na direção do pé da frente e respira profundamente.
Para sair da sequência, solta as mãos, inspira subindo o tronco, e volta ao centro antes de voltar a fazer tudo para o outro lado.
Benefícios Físicos e Emocionais, desta sequência:
• Fortalece o corpo: trabalha pernas, core e braços, melhorando a resistência e a estabilidade.
• Aumenta a confiança: postura expansiva que estimula o empoderamento pessoal.
• Liberta tensões: especialmente no peito, ombros e quadris, onde acumulamos stress emocional.
• Ajuda na concentração e foco: essencial para direcionar a energia de forma equilibrada.
• Reduz a necessidade de luta constante: ensinando-nos a encontrar força na flexibilidade e na entrega.
Meditação Ativa através de escrita consciente
Cria um momento acolhedor para refletires sobre:
"O que acontece quando deixas de sentir que ser uma guerreira não é lutar com a vida, mas sim conquistar a tua melhor versão dia após dia?"
Imagina-te daqui a 3 anos, a viver a vida dos teus sonhos.
Imagina cada detalhe dessa vida, com quem estas, o que estas a fazer, onde moras, o que gostas de fazer, etc.
Após teres dado asas à tua imaginação, escreve uma carta do teu "EU" do futuro ao teu "EU" do presente a contar como a tua vida mudou desde que mudaste de perspetiva sobre a crença do sacrifício e como és imensamente grata por todos os passos de confiança que tiveste a coragem de dar, quando seguiste a tua intuição.
A linhagem feminina carrega histórias, padrões e crenças que moldam a nossa visão do mundo.
Muitas dessas heranças são valiosas, mas outras podem tornar-se fardos que carregamos sem perceber.
O reconhecimento desses padrões é o primeiro passo para uma vida mais consciente e alinhada com a nossa verdadeira essência.
Ao compreendermos a influência da nossa linhagem e escolhermos conscientemente o que queremos manter, abrimos espaço para uma nova versão de nós mesmas – mais livre, autêntica e conectada com a nossa essência.
Chegámos ao fim deste artigo, espero que tenha sido uma mais-valia na tua vida e processo de transformação pessoal.
Gostava de te convidar a refletir sobre a tua própria história familiar e como ela te moldou, e se tiveres vontade partilha comigo a tua experiência (link – contactos).
Adoraria saber como esta reflexão ressoou em ti!
Se conhecesses mulheres a viver esta crença, não deixes de partilhar este artigo com elas.
Com Amor
Su